Vocês, noivos, estão preparados para o casamento? Se a resposta foi “sim”, então provavelmente vocês conhecem as questões que envolvem a Igreja e a celebração do Sacramento Matrimonial. Caso ainda estejam à procura de informações, nós listamos abaixo algumas dicas importantes e que vão lhes ajudar na hora de subir ao altar.
Em entrevista, Padre Wagner Ferreira, diretor e professor do Instituto de Teologia Bento XVI, na Diocese de Lorena (SP), dá conselhos e esclarece dúvidas sobre o casamento, como é possível saber a hora certa de casar e o significado de cada momento da celebração do Sacramento do Matrimônio na Igreja. “Casar-se é realizar a vocação ao amor”, destaca.
Por que o casal deve se preparar para o casamento?
É importante porque o casal precisa tomar consciência da vocação ao amor. Casar-se é realizar a vocação ao amor. Eles precisam se preparar justamente porque a vida conjugal e a vida familiar têm muitas responsabilidades, muitos deveres. Além da responsabilidade do amor na relação própria entre marido e mulher, existe a responsabilidade da educação dos filhos, de conduzir a vida familiar para o próprio bem da família e, também, para o bem da sociedade.
Qual o meio de preparação que a Igreja oferece para os casais?
A Igreja oferece cursos para noivos (Encontro de Preparação para a Vida Matrimonial), que acontecem nas paróquias, nas comunidades ou, também, conforme a disponibilidade de tempo dos noivos, existem pastorais, movimentos, grupos, que igualmente colaboram com a paróquia na preparação dos noivos para o casamento. No que diz respeito ao conteúdo dessa preparação, nós temos a questão da vocação ao amor, a questão das responsabilidades próprias de um casal, do amor um para com o outro, a fidelidade, a unidade, a importância da sexualidade, da procriação, da criação dos filhos.
É possível saber a hora certa de casar?
O casamento deve ser o resultado de um discernimento vocacional. É interessante que o Papa Francisco fala também sobre isso na Exortação Apostólica Amoris Laetitia (Alegria do Amor). Vejam que é importante que os jovens, e principalmente aqueles que já estão namorando, saibam se deixar acompanhar, busquem acompanhamento com casais da Igreja, pessoas idôneas, casais que testemunhem sua alegria de viver a vida matrimonial e familiar. E, claro, a direção espiritual com os sacerdotes. Tudo isso colabora nesse processo de preparação, nesse discernimento para que o casal possa chegar naquele momento e dizer: pronto, nós acreditamos que estamos preparados. Existem também as questões econômicas, que são importantes, mas não são tudo. Até porque é aconselhável que as famílias, pouco a pouco, colaborem para que o casal possa se encontrar nessas condições de dizer o “sim” para aquele momento do matrimônio.
Quais os valores mais importantes do matrimônio?
A Igreja ensina que os valores mais importantes para o matrimônio são todos aqueles que decorrem do elemento essencial: o amor conjugal. Quais são os valores? Um deles é a unidade, ou seja, a comunhão entre o casal. Através da unidade – a cumplicidade –, o casal deve viver a lógica da comunhão em tudo aquilo que irá viver, em todas as realidades, nas decisões da vida conjugal, da vida familiar, nas tensões que muitas vezes o casal, a família, enfrenta. É importante que tudo isso seja discernido junto, em unidade. Outro valor é a fidelidade, que é prometida no momento do casamento. Cultivar a indissolubilidade matrimonial, a ternura, o carinho, o diálogo, porque muitas vezes o casal enfrenta situações difíceis até mesmo no relacionamento, às vezes são diferenças de caráter, de temperamento. Momentos de tensão acontecem na vida conjugal, familiar, na educação dos filhos, no relacionamento com os filhos. Daí a importância do diálogo, que possibilita a vivência, por exemplo, do perdão, da reconciliação.
O que significa cada momento da celebração do casamento?
O elemento principal na celebração do Sacramento do Matrimônio é o consentimento matrimonial. Ou seja, aquele momento em que marido e mulher dizem um para o outro: “Eu te recebo por meu esposo, eu te recebo por minha esposa, e prometo lhe ser fiel…” e assim por diante. Se não existir esse momento, o matrimônio é nulo, não existiu. Os outros elementos ajudam na realização desse consentimento matrimonial. Então, em toda a celebração, nós temos a Palavra de Deus, que ajudará o casal e, também, os participantes daquele momento, a tomarem consciência da realização da vocação ao amor. De modo especial, o casal participa dessa mística nupcial entre Cristo e a Igreja para ser no mundo um sinal visível do amor que Deus tem pela humanidade, do amor que Cristo tem pela sua Igreja. Acontece também a entrega das alianças, para marcar, de fato, que, a partir daquele momento, os dois se tornam uma só carne, uma só alma. Há uma aliança de amor entre marido e mulher, por isso eles invocam a benção de Deus, partilham as alianças como um sinal da comunhão de amor que se estabeleceu entre eles pela Graça de Deus. Ainda existe o momento da benção nupcial, em que a Igreja invoca uma benção especialmente para a mulher, para que ela também realize a sua vocação materna, no contexto da vida matrimonial, da vida familiar. E, claro, normalmente uma celebração de matrimônio pode ser dentro da Missa, exatamente para mostrar o vínculo que há entre matrimônio e Eucaristia. Se não tiver a Santa Missa, por vários motivos, a celebração do matrimônio acontece e, no final, o casal pode receber a Sagrada Comunhão tendo se preparado com o Sacramento da Penitência. Nesse caso, recebe a Eucaristia para ter consciência da necessidade da comunhão com Cristo, da comunhão de amor com Deus, para viver as alegrias e as responsabilidades próprias da vida conjugal, da vida matrimonial.
É o Padre que realiza o casamento?
O Catecismo da Igreja Católica, números 1.623 e 1.630, fala dessa questão da celebração do matrimônio. Na realidade, os ministros do Sacramento do Matrimônio são o próprio casal. O padre ou o diácono – também o bispo – é uma testemunha qualificada, justamente porque ali o sacerdote, bispo ou diácono, representam a Igreja. Para que os ministros do Sacramento do Matrimônio, marido e mulher, tenham consciência que estão selando aquele pacto conjugal, aquela aliança, diante da Igreja, perante a comunidade cristã. É um compromisso de amor também com Deus, compromisso de amor com o corpo místico de Cristo, que é a Igreja.
O casamento pode ser realizado fora da Igreja?
O casamento não pode ser realizado fora do templo da Igreja. Com o casamento, não há somente a união dos noivos um para com o outro, mas também a união com Deus para receber, a partir do Sacramento do Matrimônio, o dom do Espírito Santo, as graças divinas, de modo a viverem com alegria as responsabilidades próprias da vida matrimonial e familiar. Por isso, é importante celebrar o casamento na Igreja, porque são irmãos em Cristo que celebram aquele amor no Senhor. Agora, pode acontecer de forma extraordinária que o casamento seja celebrado fora da Igreja. Às vezes é por motivo de saúde ou por outros tantos motivos, que no caso, o bispo diocesano, pastor da Igreja local, dá uma permissão para que aquele casamento seja celebrado fora. Mas ordinariamente o casamento deve ser celebrado dentro da Igreja.
O que faz um casamento dar certo?
O Papa Francisco, de modo muito precioso, no documento Amoris Laetitia, nos apresenta diversas pistas para um casamento dar certo. Antes de tudo, é o cultivo do amor conjugal. Marido e mulher devem se amar, devem cultivar o amor em todas as decisões. O amor que é afeto, carinho, ternura, cumplicidade, unidade, comunhão, que devem levar cada um a sair de si mesmo para dialogar, conversar. É interessante que o Papa fala sobre a importância da escuta no diálogo. É importante dar atenção ao outro. Isso também é forma de ternura, carinho, de manifestar interesse pelo outro. Mesmo quando, às vezes, o que se está escutando não é tão agradável assim. O casamento dá certo quando se perdoa nos momentos difíceis, nos momentos de erros e falhas. É necessário que o casal tenha consciência de que ninguém está casando com um anjo, com uma pessoa perfeita. A partir do amor conjugal vai se edificando, aperfeiçoando o casal um ao outro. Também, sem dúvida alguma, é imprescindível a presença de Deus, da oração do próprio casal e junto com os filhos, cultivar a participação na vida da Igreja, da comunidade cristã. É importante se deixar orientar pela Palavra de Deus, participar dos sacramentos da Igreja. Conforme a disponibilidade de tempo, frequentar grupos da Pastoral Familiar e tantos movimentos que auxiliam nesse processo tão bonito da vivência do amor dentro do contexto familiar. Também a Igreja deve chamar a responsabilidade da sociedade, do Estado, para que dê as condições favoráveis para que o casal possa viver a sua vocação ao amor. O Estado deve dar as condições no sentido político, econômico, educacional, saúde e tudo aquilo que diz respeito ao bem comum que as famílias devem ter acesso.
O que é nulidade matrimonial?
A Igreja Católica ensina que a nulidade matrimonial é quando o casamento não existiu, quando não houve o consentimento matrimonial. Ou, então, o casal talvez tenha celebrado o Sacramento do Matrimônio na Igreja, com festa e tudo mais, mas algum elemento que estava escondido, não tenha se tornado conhecido pela Igreja ou pelo próprio celebrante. Algum elemento entrou viciando o consentimento matrimonial, tornando-o falso, nulo. Por exemplo, quando uma das partes escondeu uma verdade que, se a outra parte ficasse sabendo, aquele casamento não teria acontecido. O Código de Direito Canônico – livro de normas da Igreja – apresenta diversas circunstâncias que tornam o casamento nulo. Nesse caso, o casal deve procurar a partir de sua paróquia, de sua diocese, o Tribunal Eclesiástico para verificar se realmente aquele casamento existiu ou não. Isso quando o casal esta exatamente vivendo uma situação de crise tão séria, que chega a ponto de tomar a decisão de se divorciar. O Tribunal Eclesiástico, a partir de um processo canônico, poderá declarar aquele casamento nulo. Se isso acontecer, aquele homem e aquela mulher se encontram livres para, talvez, contrair um novo matrimônio.